Lendas e tradições

AMOREIRA DA GÂNDARA
 
Lenda das Bruxas dançantes
Conta-se que, há já muitos anos, vivia nesta terra um homem que negociava com carnes. Muitas vezes andava de noite por esses caminhos, tanto cá em Amoreira como por terras vizinhas.
 
Um dia voltava a casa, já tarde, cansado de muito trabalhar. Passou então por uma gândara onde lhe pareceu ouvir risos e música. Desceu da bicicleta e aproximou-se para ver melhor. Qual não foi a sua surpresa ao ver um grupo de mulheres... que todas nuas dançavam à volta de uma fogueira.
 
De repente, também elas se aperceberam da sua presença e foram-no buscar para dançar com elas. Assim foi. Até de madrugada todos dançaram.
Antes de o mandarem embora, obrigaram-no a prometer que nada diria do que tinha visto, se o fizesse seria a sua pena de morte.
 
Festa do Imaculado Coração de Maria
A tradicional festa do Imaculado Coração de Maria, que ainda hoje tem lugar no primeiro Domingo de Setembro, constava de missa cantada, acompanhada de sermão e a culminar a procissão. Da igreja saíam os andores enfeitados com flores seguindo o percurso até ao cruzeiro e recolhendo novamente à igreja. Na procissão iam sempre pessoas a cumprir promessas, umas rezando, outras descalças, de joelhos ou vestidas com diversos hábitos. Havia quem oferecesse à padroeira ouro, flores ou dinheiro. Terminada a procissão tocava a banda até ao anoitecer. Já à noite dava-se início ao arraial. Esta festa sofreu alterações ao longo dos tempos. Actualmente, festeja-se também o S. Martinho celebrando-se missa, procissão e arraial.
 
A Páscoa na aldeia
Antigamente, logo de manhã tocavam os sinos e saíam duas cruzes, uma para cada lado da localidade, que eram levadas pelos Juízes da Igreja. Começava-se a beijar a cruz de casa em casa onde toda a vizinhança, familiares e amigos se reuniam. Como sinal de que a cruz se estava a aproximar, tocava uma campainha que geralmente era trazida por uma criança. Havia outra que trazia um saco onde cada um depositava o seu donativo. O pároco, ao entrar nas casas, benzia-as com água benta e rezava a seguinte oração:
 
Aleluia, 
Aleluia 
Cristo ressuscitou 
Aleluia, Aleluia 
Após o beijar da cruz, comiam-se amêndoas, tremoços, amendoins, pão-de-ló, bolo da Páscoa e o que cada um entendesse oferecer. 
No final do dia, quando as cruzes recolhiam, repicava o sino. 
Neste dia, era hábito os afilhados esperarem os seus padrinhos para receberem o folar (Bolo da Páscoa). Esta tradição manteve-se inalterada até aos dias de hoje. 
 
Festa do Galo
Pelo Carnaval era hábito realizar-se, na escola, a tradicional Festa 
Casamentos de outros tempos
Desde os primórdios da humanidade que sempre se celebraram casamentos. Estes eram bastante diferentes dos actuais. Quando um rapaz e uma rapariga queriam casar, os pais do noivo iam pedir a mão da rapariga em casamento. Nesse dia marcava-se a data e o noivo oferecia, à noiva, o anel de noivado. Dois meses antes do casamento faziam-se os convites. 
As noivas, de um modo geral, levavam um fato composto de saia e casaco e um véu. No entanto, as que pertenciam a famílias abastadas levavam vestido branco comprido envergando na mão o tradicional ramo de laranjeira (símbolo de virgindade ).
 
Após o acto católico, os noivos eram felicitados pelos convidados e a madrinha da noiva atirava amêndoas, na porta da igreja, para as crianças que por ali estivessem. Seguidamente, dirigiam-se a casa dos pais, ajoelhando-se na soleira da porta pedindo a sua bênção bem como perdão pelas ofensas passadas. Ao chegar a casa, a rua estava enfeitada com verdura e flores da época. Havia uma mesa com uma terrina que era destapada pelos noivos de onde saía um casal de pombas. 
 
Partia-se para a boda que tinha como pratos: canja, cozido à portuguesa, carneiro assado com batatas e o tradicional leitão. Durante o almoço, a madrinha da noiva espalhava amêndoas pela mesa para os convidados. À sobremesa comia-se pão-de-ló, aletria, arroz doce e bolo de noiva. Para beber servia-se vinho que os pais da noiva fabricavam em casa, embora nos casamentos mais ricos fosse servido espumante. 
 
Quanto às núpcias ou não as havia ou eram curtas e passadas no país. Os noivos iam morar para casa dos pais de um deles. 
Formaturas 
 
Sempre que alguém terminava o seu curso fazia-se-lhe uma festa. Começava-se por ir esperar a pessoa ao comboio e iniciava-se o cortejo, apenas com alguns carros. Ao chegar à freguesia estalejavam foguetes e ofereciam-se flores ao recém – formado, acompanhadas dos respectivos cumprimentos de saudação. As raparigas solteiras atiravam pétalas de flores ao recém – formado. 
Os pais ofereciam um lanche aos convidados e abriam a adega a todos aqueles que quisessem beber. Para animar a festa, convidavam-se alguns músicos e todos dançavam. 
 
PAREDES DO BAIRRO
Existe na freguesia de Paredes do Bairro um costume ou tradição sem igual na região, e talvez até no País: o "desenterrar da Pedra da Sesta" e o "enterrar da Pedra da Sesta" que consiste no exumar (desenterrar) de uma enorme pedra, em 25 de Março, dia da Festa da Maria Malandrona, e o enterrar da mesma, em 25 de Setembro, simbolizando e marcando assim o início e o fim da sesta dos trabalhadores rurais. O desenterrar é realizado por dois trabalhadores que, munidos de um garrafão de vinho, broa e chouriço, se encarregam da árdua tarefa.
 
De acordo com as memórias dos antigos, recuperou-se o jogo da malha.
MARCHA DE S. JOÃO DE PAREDES DO BAIRRO / 2003
A marcha de S. João
Com S. Pedro é alegria 
Vamos cantando e dançando 
Povo desta freguesia
Esta noite em Anadia
Há pares de namoricos
E dançando lado a lado 
Que por nós é festejado 
Com cravos e manjericos
Vamos lá Paredes com seus foliões
Cantando e dançando 
Com seus arcos e balões 
Vamos lá Paredes
Com suas moçoilas
O que lindas vão
Parecem papoilas
Rapazes e raparigas 
Vocês são os foliões
Com a marcha de Paredes 
Encantam os corações
Desde manhã ao pôr sol 
Para esquecer as fadigas
Muitas promessas de amor 
Os beijos têm mais sabor 
Trocados às escondidas
 
ANCAS
A tradicional Corrida de Burros que se realiza todos os anos em Agosto, na freguesia de Ancas, Anadia, por altura dos festejos de Nossa Senhora da Assunção de Ancas, enche as ruas da Freguesia de gente. Risos e gargalhadas dominam o dia, onde paira sempre a boa disposição e o convívio.
 
A corrida de burros representa uma tradição com algumas dezenas de anos. 
“Oito voltas foi o número estipulado pela organização da ultima corrida, num percurso com cerca de 600 metros. No entanto, de acordo com João Paulo Pinto, mordomo da festa, apenas o primeiro classificado concluiu as oito voltas: “O segundo completou sete, o terceiro seis e o último três. São complicações que fazem parte da prova”, disse, por entre sorrisos.
 
Junto à partida, no Largo da Igreja, Joaquim Seabra, trajado a rigor de forcado, ansiava pela partida. Preparado para montar o seu burro, disse que esta era a terceira vez a participar. Explica, gesticulando, que tenta ir sempre em cima do burro. “Não lhe bato nem o puxo. O burro é ele, ele é que tem de andar”, frisa, enquanto ajeita o gorro. Óscar Oliveira vai sorrindo enquanto houve o destemido concorrente.
 
“Todos os anos cedo burros. Este ano os meus são três. O quarto foram buscá-lo à freguesia de Paredes do Bairro”, diz Óscar Oliveira. Acrescenta que ter um burro é muito dispendioso: “Tinha mais. Mas fui obrigado a dá-los. Há mais de 10 anos que empresto burros, para ajudar a que a tradição não acabe. Festa de Ancas sem corrida de burros não é o mesmo”.